A região francesa da Borgonha oferece culinária singular, vinhos famosos, paisagem medieval e atrações para os fãs do automobilismo
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Que a França é lugar de bons vinhos, alta gastronomia e monumentos históricos, você certamente já sabe. Há, contudo, um lugar em que esse trio de atrações se fortalece cada vez mais, seduzindo visitantes do mundo todo: a Borgonha. Situada apenas 300 km ao sul de Paris, ela é fácil de desbravar, seja de trem (TGV, alta velocidade, chega lá em apenas 1h30) ou de carro.
E a idéia é essa mesmo: vagar ao longo de pequenas e agradáveis estradas, cruzando pequenas vinícolas, pousada charmosas, restaurantes premiados, castelos e igrejas com às vezes até mil anos de idade. A Borgonha brinda seus hóspedes com cores, perfumes, sabores e paisagens peculiares. Também oferece inúmeras atividades esportivas e de natureza (clique aqui para ir diretamente às opções esportivas).
Cenário inigualável – A região ocupa 6% do território francês, mas tem somente 2,7% do total de habitantes (cerca de 1,6 milhão de pessoas). Por isso, exibe uma das mais baixas densidades populacionais da Europa.
Para o turista, isso se traduz num cenário deliciosamente bucólico e sossegado. Nos pequenos povoados ou mesmo nas cidades maiores, como Dijon e Beaune, a vida segue como no passado.
Faz sentido: ao contrário do resto da França, a Borgonha escapou quase ilesa dos bombardeios nas duas guerras mundiais do Século 20. Por isso, o que mais se encontra são construções das mais variadas épocas – da Idade Média, há quase um milênio, à Belle Epoque, há cerca de 100 anos.
Basta ver o arco de Port Guillaume ou o Hotel de la Cloche, ambos em Dijon, para comprovar isso. Construídos no final do Século 19, eles brilham como novos. Igualmente espantoso é o nível de conservação de relíquias do nível da Igreja gótica de Notre Dame, construída a partir do Século 13. Ela impressiona os visitantes com suas com suas enigmáticas gárgulas, aquelas as calhas para desaguar a chuva em forma de monstros e demônios.
Palácios e catedrais – Reza a lenda que foram colocadas ali para que os fiéis antevissem o que lhes aguardava no inferno, caso levassem uma vida de pecado.
Dijon tem dezenas de lugares assim, mas é fácil visitá-los: entalhados nas calçadas, números e desenhos indicam um roteiro para quem tem em mãos o guia oferecido pelo comitê de turismo em seus quiosques.
Seguindo a trilha, você descobre as 22 mais interessantes atrações da cidade. Vale destacar o Tour de Bar, palácio erguido em 1365 pelo duque Felipe II – um dos mais importantes personagens da sua época, famoso por ter organizado a Última Cruzada.
Imponente e dominador na paisagem é também o Palácio dos Duques da Borgonha, projetado para ser uma fortaleza no Século 11 e, posteriormente, transformado em uma mansão, em 1668. Poupado nas crises e revoluções, ele sedia a prefeitura hoje em dia.
Aromas e sabores – Bem mais novo, porém encantador, é Mercado de Dijon – ponto obrigatório para os turistas. Ele magnetiza os olhares a começar pela sua estrutura metálica, com detalhes que lembram a Torre Eiffel. Isso porque seu projetista foi ninguém menos que Gustave Eiffel, nascido e criado na Borgonha.
Dentro, as cores e aromas dão água na boca. O mercado vende desde pimentões gigantes até quiches, galinhas caipiras, defumados, cassis e mostarda.
Vale ressaltar que cassis e mostarda são orgulhos em Dijon. Quem nunca ouviu falar da Mostarda Dijon? São dezenas de as variedades: pura, com sementes, misturada a mel, pimenta, tomates, cebola, cerejas, frutas e até conhaque. O lugar certo para comprar, anote, é a Boutique Maille, que há 263 anos comercializa apenas mostardas e outros molhos e condimentos.
Já o cassis deu origem ao refrescante drinque chamado kir. Trata-se de mistura do xarope da fruta com vinho branco gelado, feito da uva aligoté. Unidos, eles dão origem a um aperitivo leve e doce, servido em quase todas as refeições nos melhores restaurantes.
Por falar em vinho, ele é o orgulho da Borgonha. É nela que se produz, por exemplo, aquele considerado o mais caro do mundo : Romanée-Conti – cerca de US$ 3000 por garrafa. Para não falar de outros adorados pelos enólogos mundo afora, como os de Chassagne Montrachet ou Chablis.
Mas não pense que é preciso gastar muito para degustar bons tintos, brancos e roses. Há ótimas opções a partir de 20 euros. Você as encontra saindo de Dijon, na Rota dos Grand Crus. Nada menos que 273 vinícolas da região estão abertas à visitação e têm suas próprias lojas.
Como achá-las? Elas se espalham à beira das estradas principais e secundárias. Basta ficar atento a uma placa de sinalização com o nome “Des Vignes em Caves” na porta. Ela indica que a vinícola faz parte da associação criada para receber turistas diretamente nos vinhedos e caves.
A rota dos bons vinhos – A Rota dos Grand Crus tem 60 km e passa por lugarejos como Marsanay, Couchey, Morey-Santt Denis e Chambolle Musigny. Até dar em Chateau Clos De Vougeot, um vinhedo cercado de muros instalados em 1109, pelos enigmáticos monges da Ordem Cisterciense.
Os religiosos vivem ali até os dias de hoje. Mas quem ocupa a mansão principal da propriedade é a Confraria dos Cavaleiros Provadores de Vinho (Confrérie des Chevaliers du Tastevin).
Essa sociedade tem mais de 12 mil membros e promove 16 jantares por ano para eles. São reuniões em que, além de vinhos, discutem-se os rumos da economia e da política internacional, já que diversos chefes-de-estado, magnatas e grandes empresários fazem parte dela. Tudo está aberto à visitação: da adega aos suntuosos salões de festas, com suas fotos de reis e presidentes famosos.
A confraria fica bem pertinho de outra cidade notável: Beaune, a “capital do vinho” na Borgonha. Essa antiga vila medieval é hoje um centro de comercialização e leilões das safras locais. Atrai anualmente 250 mil turistas – 10 vezes mais do que sua própria população.
O vinho está por toda parte, seja no Musée du Vin – um pequeno, porém caprichado museu –, seja na adega esplendorosa do antigo Hôtel des Ducs de Bourgogne, situado – por ironia do destino – na Rua do Inferno (em francês, Rue d’Enfer).
Beaune, diga-se, vai além do vinho. Abriga um dos mais impressionantes marcos históricos de toda a França. É o Hotel Dieu, obra prima da arquitetura flamenga, também conhecido como Hospices de Beaune. Trata-se de uma gigantesca construção data de 1443 – portanto, no fim da Idade Média. Ela foi erguida para abrigar e cuidar dos sobreviventes da Guerra dos Cem Anos (1337-1453).
Resistiu ao tempo e revela hoje um estado impecável de conservação de suas fachadas, móveis e, sobretudo, do telhado, composto de um mosaico de pedras de diversas cores. Além de museu, é cenário atualmente de um célebre leilão anual de vinhos e do Festival Internacional de Ópera Barroca.
Herança medieval – Há diversos monumentos, palácios e igrejas de significado, mas poucos rivalizam com o Hotel Dieu. Um deles, a menos de uma hora de carro dali, é a Abadia de Fontenay, exemplar mais completo e bem preservados da chamada “Arte Românica Cisterciense” em todo mundo.
Fundada em 1118 por São Bernardo de Clairvaux e incluída no Patrimônio Mundial da Unesco desde 1981, ela exibe a arquitetura grandiosa, porém austera e sem adornos – uma característica da filosofia cisterciense, que pregava o desapego aos valores materiais.
Isso tanto nos edifícios dedicados à oração quanto naqueles voltados aos trabalhos dos monges. Imperioso visitar a igreja abacial, o claustro, os dormitórios e a fundição, que lhes garantiu fortunas no final da Idade Média, época em que poucos sabiam fabricar artigos finos de ferro e outros metais. Sem contar o primoroso jardim que permeia tudo isso, redesenhado no século passado pelo arquiteto e paisagista inglês, Peter Holmes.
Tão emocionante quanto a Abadia de Fontenay, só um lugar: a Basílica de Santa Maria Madalena, na diminuta Saint Pére sous Vézelay. Fundada na Idade Média, ela notabilizou-se por sua cripta, com um relicário que possui, supostamente, um osso da costela de Maria Madalena.
Assim, tornou-se alvo de romarias e uma das principais paradas dos cristãos franceses que rumam a Santiago de Compostela, na Espanha.
Mágica no ar – O misticismo de Vézelay foi intensificado graças a pequenos detalhes da construção que revelam a inventividade de seus idealizadores. Eles a desenharam de forma que, todos os anos, exatamente no dia de São João Batista, os raios de luz incidam pelos vitrais concentrando-se bem no centro do caminho que leva ao altar. Ou seja, uma espécie de “trilha iluminada” conduzindo à imagem de Jesus Cristo.
Vezelay e Fontenay alimentam a alma e o espírito dos que crêem. Mas e o corpo, quem abastece? Nesse ponto, a Borgonha é um lugar de refinamento incomparável. Ali estão nada menos que 26 restaurantes “estrelados” pelo Guia Michelin – talvez a mais bem reputada referência mundial em gastronomia.
Muitos deles, famosos por também hospedarem seus clientes, como o Le Relais Bernard Loiseau – o hotel de luxo mais aprazível da província, instalado num bosque às margens da rodovia A6, que vai de Paris a Lyon. Este é um dos mais esmerados restaurantes com pontuação máxima pelo Guia Michelin: três estrelas.
Ou, ainda, o L’Esperance, comandado pelo chef Marc Meneau e agraciado com duas estrelas pelo Guia Michelin. Lá é igualmente possível se hospedar.
Restaurantes estrelados – Nesses restaurantes “estrelados”, você se depara com pratos exóticos para nós, brasileiros, mas de sabor sublime. É o caso dos cromequis – delicados cubinhos de queijo empanados e recheados de escargots (os caracóis comestíveis típicos do interior francês). Eles podem ser degustados no L’Esperance e são motivo de orgulho para Marc Meneau.
Ok, você dispensa caracóis e prefere algo mais convencional? Que tal a receita de um frango “caipira” (ou seja, criado em moldes tradicionais, fora de granjas), no qual o tempero a base de estragão e ervas é meticulosamente disposto horas antes do preparo entre a pele e a carne da ave. Quando vai ao forno, o sabor já tomou conta de cada milímetro e é uma questão de apenas servir na temperatura certa, crocante.
A genialidade de chefs borgonheses como Marc Meneau fica bem clara em pratos surpreendentes, como a sobremesa feita de pimentão recheado com sorbet. Você não leu errado: a equipe do cozinheiro deu um jeito de tornar os dois ingredientes compatíveis e deliciosos quando saboreados ao mesmo tempo. Mais que isso, o aroma é diferente do exalado por qualquer outra sobremesa que você já tenha provado.
A disposição no prato, com caldas decorativas em profusão, é um deleite para olhos. E até mesmo o nome, proferido com delicadeza pelo garçom, agrada aos ouvidos: “Sorbet au Poivron Rouge”. Porque, na Borgonha, a experiência de viajar é para todos os sentidos.
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