Maresias: surfe, natureza e uma linda pousada

Passei quatro dias pra lá de agradáveis na Meca do surfe paulista – onde o campeão Gabriel Medina é venerado em cada esquina. E me hospedei em uma pousada que é um verdadeiro achado!

Fotos e vídeos: Paulo Mancha

Na minha infância (e bota umas quatro décadas nisso!), sempre viajava de carro com meus pais e irmãs. Pegávamos tudo que era estrada Brasil afora. Mas tinha uma que meu pai nunca quis trilhar: a Rio-Santos. Naquela época, tratava-se de uma via precária e perigosa, onde só aventureiros iam.

Lembro de olhar um mapa e ver por ali uns pontinhos com nomes esquisitos: “Toque-Toque”, “Boiçucanga”, “Maresias”. Perguntando ao velho, recebi uma resposta desencorajadora, talvez para que eu não me frustrasse por não conhecer os tais lugares: “Ah, isso aí é só mato e umas praias desertas. Só hippie e surfista vai lá…”

Passados quarenta anos, os hippies sumiram, o mato diminuiu e nada mais ali no Litoral Norte de São Paulo pode ser classificado de “deserto”. Aliás, a estrada melhorou – e muito! Restaram apenas duas coisas daqueles românticos anos 70: a beleza natural e o surfe.

Foi isso que constatei mês passado, ao desfrutar de quatro dias de paz, contemplação e relaxamento em Maresias, a 180 km do frenesi paulistano.

Dei sorte de ficar hospedado numa verdadeira pérola local, a deliciosa Pousada Porto Mare, considerada pelos usuários do TripAdvisor como a melhor dentre as 48 pousadas da cidade.

Eu disse “cidade”? Bom, vamos explicar: Maresias é, a rigor, um bairro de São Sebastião – esse, sim, um município. Mas isso é só na esfera burocrática. A praia dos surfistas fica tão apartada do núcleo urbano (27 km!) que todo mundo, na prática, a considera independente.

Então, caro leitor do Viajando por Esporte, permita-me surfar na onda da informalidade ao longo desta reportagem e não me chame de “prego”, “jaca” ou “panga” se eu cometer essa inexatidão… 😉Outra liberdade que tomo neste texto é falar tanto do destino quanto da hospedagem nas mesmas linhas. Sou daqueles que acham que um hotel meia-boca estraga a experiência mesmo no recanto mais paradisíaco. Enquanto uma hospedagem agradável é capaz de abrilhantar um local, digamos, não tão embasbacante. Outrossim, gosto de unir ambos nas mesmas linhas.

No meu caso, um multiplicou a delícia do outro. Comecemos por Maresias. A faixa de areia clara se estende por generosos 5 km, onde a água verde translúcida quebra ora forte, ora moderada. No “lado direito” (aquele de quem chega vindo de São Paulo, espalham-se condomínios fechados e um ou outro hotel. No esquerdo (aquele já perto da saída para o restante do Litoral Norte), ficam as pousadas, os restaurantes, praças, lojas e baladas.

As ondas de Maresias já serviram de palco para etapas de campeonatos mundiais de surfe. E ensejam torneios nacionais o ano todo. Por isso, a cultura desse esporte está em tudo. Confira as imagens:

Vale lembrar que um expoente do surfe internacional cresceu por ali. Ninguém menos que Gabriel Medina, que, quando não está domando alguma onda mundo afora, gerencia o Instituto Gabriel Medina, uma iniciativa que dá chance a jovens carentes de se desenvolver no surfe e ter uma profissão ligada ao esporte, seja como atletas, seja envolvidos na infraestrutura da modalidade.

Aliás, Medina também tem lojas e uma lanchonete por ali, a Balada Mix – tudo bem legal de visitar e curtir.

Gabriel Medina

Vídeo que fiz para os stories do Instagram:

Se existe um defeito em Maresias, são os preços nos restaurantes da orla: bem mais salgados que a comida que sai de suas cozinhas. Mesmo assim, vale a pena ir pelo menos uma vez, pela vista e pelo clima. Inigualável um happy hour no Kanaloa, no Badauê ou no Os Alemão. Sem falar no Terral, de temática surfista. Caros, mas bacanas.

Há também as baladas, como o tradicional Club Sirena, que desde os anos 90 atrai gente bonita de todo o estado de São Paulo para suas longas noites de música ao ar livre, com direito a coquetéis inventivos e bons petiscos – ainda que tudo, como sempre, para quem tem a carteira recheada.

Se você, no entanto, quer comer bem e economizar, busque as pequenas pérolas que se espalham fora da areia, como a Empanadas Tucumanas – um botequinho delicioso, fundado por argentinos – ou o Ravenala – restaurante da Pousada Porto Mare.

O carro-chefe do Ravenala são, claro, os peixes e frutos do mar. Eu sou alérgico e, por isso, me mantive nas carnes (excelentes, vale dizer – experimente o picadinho de mignon na cerveja; ou o parmegiana do chef... hummmm!).

Mas quem pode comer de tudo precisa degustar a caldeirada, preparada com refogados de lula, camarão, marisco, badejo, tomate, leite de coco, salsinha, pimentões, cebola e caldo de peixe. Ela é servida com arroz branco, farofa de dendê e pirão (custa R$ 156 para duas pessoas).

Tem ainda o bobó de camarão, com os crustáceos refogados no dendê, leite de coco, mandioca, tomate, cebola e pimentões. Sem contar o badejo, o linguado ou a pescada, sempre acompanhados de arroz branco, feijão, farofa, fritas ou salada (de R$ 32 a R$ 51).

Vai levar os filhos? Saiba que o Ravenala tem pratos infantis, como o espaguetinho (R$ 21) ou o escalopinho, servido com arroz, feijão, escalopinho de filé mignon e fritas (R$ 28).

Como me hospedei ali, pude experimentar o Ravenala de várias formas, inclusive no café da manhã e para um drinque ao luar, à noite. Prefiro que você veja as fotos e imagine…

Sim, o ambiente do restaurante, à beira da piscina da Porto Mare, é realmente especial. A pousada toda é assim charmosa, desde a recepção, com sua decoração náutica e com detalhes que remetem ao surfe, até os quartos, bem aconchegantes e equipados.

Vídeo que fiz para os stories do Instagram:

Todos os apartamentos têm 20 metros quadrados de área, ar condicionado, frigobar, cofre, wi-fi gratuito, TV por assinatura e DVD player (há uma ampla coleção de filmes numa prateleira ao lado da recepção). As suítes máster são ainda mais bacanas, graças à Jacuzzi. Ah, e a pousada tem uma sauna bem agradável, integrada à piscina, e é pet-friendly.

Defeito? Só a vista dos apartamentos standard. Eles têm uma varandinha agradável, mas de cara para a construção do lado – um hostel. Nada, porém, que tenha atrapalhado minha estadia. Até porque você não vai a Maresias para ficar enfurnado no quarto, correto?

Nesse sentido, achei muito interessante a pousada alugar bikes, stand-up paddle e pranchas de surfe, caso você queira pegar onda.

E se você prefere só lagartear na areia, ela fornece gratuitamente guarda-sol e cadeira para levar à praia, que fica a 270 metros dali – uns 4 minutos de caminhada pelo divertido “Beco da Mulher Maravilha“, com seus belos murais.

Sim, a Porto Mare não é “pé-na-areia”, felizmente! Porque graças a isso, as diárias ficam em um nível pra lá de razoável – disparado a melhor relação custo/benefício de Maresias.

Vídeo que fiz para os stories do Instagram:


Na recepção, os funcionários ajudam, ainda, a contatar instrutores de surfe e empresas que levam a passeios pela região – não faltam opções longe do mar também, como trilhas, voo livre, cascatas e afins…

Por falar no pessoal que trabalha na pousada, é preciso afirmar: eles são nota 10. E não é por acaso. Conversei com a proprietária e ela deixou clara uma filosofia com a qual concordo e que há anos tento disseminar em minhas reportagens: o fator humano é essencial. De nada adianta ter o hotel mais luxuoso do mundo se os funcionários andam de cara amarrada e maltratam os clientes.

Ainda bem que a Porto Mare é exatamente o oposto disso. Qualquer defeito que eu tenha presenciado foi ofuscado pela gentileza, eficiência e bom humor do staff. Da arrumadeira com quem eu topava nos corredores ao barman do restaurante Ravenala, todos tinham sempre um sorriso sincero e sossegado no rosto. Consonante com quem habita um recanto tão aprazível.

E fique esperto: há muitas promoções ao longo do ano, com períodos em que a hospedagem vira uma pechincha. Fique de olho no site da pousada ou na seção de releases do Viajando por Esporte, já que eu sempre divulgo ali essas barbadas.

Boa viagem e boas ondas!

Parmesolino transgressor em Maresias!

Pousada Porto Mare – R. Sebastião R César, 400 – Praia de Maresias, Tel.: (12) 3865-5272

  • Diárias: a partir de RS$ 271  (casal)
  • Para crianças? Sim
  • Romântico? Sim
  • Natureza? Sim
  • Vistas panorâmicas? Não
  • Tem esporte? Aluguel de bike, stand-up paddle e pranchas de surfe
  • Conforto (de 1 a 10): 7,5
  • Gastronomia (de 1 a 10): 7,5
  • Spa (de 1 a 10): – não tem
  • Hospitalidade (de 1 a 10): 10
  • Passeios na região (de 1 a 10): 8

Saiba maishttps://www.pousadaportomare.com.br/

Publicado por Paulo Mancha

Jornalista especializado em turismo, foi editor chefe da Revista Viajar pelo Mundo e repórter das revistas Terra e Próxima Viagem. Desde 2003, fez mais de 50 reportagens internacionais e, em 2012 e 2014, foi agraciado com o Prêmio de Melhor Reportagem da Comissão Europeia de Turismo. Comentarista esportivo do canal ESPN, Paulo decidiu unir neste blog as duas paixões: viagens e esportes.

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