Enquanto o mundo todo aposta no esporte como forma de atrair visitantes estrangeiros, o Brasil derrapa feio na curva…
Foi com constrangimento – vergonha alheia mesmo – que vi algumas semanas atrás o Governo e muitos órgãos de imprensa noticiando com alegria que “o Brasil teve 42 mil turistas estrangeiros a mais em 2017 e bateu um recorde: 6,5 milhões no total! ”
6,5 milhões de visitantes estrangeiros… O número assim jogado, desprovido de contexto, pode até soar bem. Essa era certamente a intenção de nossos governantes ao divulgá-lo – e boa parte da mídia caiu na armadilha. Só que, falando como jornalista de turismo, eu lhe digo, caro leitor do Viajando por Esporte: 6,5 milhões de turistas estrangeiros no Brasil é uma piada.
Para você ter ideia, a Torre Eiffel, sozinha, recebe anualmente 7 milhões de pessoas. Paris, por sua vez, tem 15 milhões de estrangeiros zanzando por suas ruas e calçadões todos os anos.
Quer algo menos clichê? A cidade de Macau, na China, tem mais do que o dobro de turistas anuais do Brasil inteiro. A Tailândia recebe cinco vezes mais estrangeiros que nosso país a cada ano. A minúscula República Dominicana empata com a gente.
Não figuramos nem entre os 40 maiores do turismo no mundo.
“Mas por que você está escrevendo sobre isso num blog de turismo relacionado a esportes, Mancha?”
Eu chego lá…
Sobram razões para o fracasso do turismo no país: a criminalidade, a falta de infraestrutura, os preços ridiculamente altos da rede hoteleira… E uma razão que me incomoda profundamente: a passividade. O brasileiro pensa que é “obrigação” do estrangeiro vir para cá, já que “o país é lindo”. E por aí fica.
Acontece que essa é uma visão arcaica, que no resto do mundo morreu há 30 anos. Hoje em dia, o turismo se alimenta de proatividade, de fatos e eventos – ocasiões que “levantam a bola” do país e o divulgam como destino de férias.
“Ué, Mancha? Nós já temos o Carnaval!”
É verdade, mas é pouco. O turismo de verdade acontece o ano todo, incentivado por pequenas iniciativas, muitas delas ligadas aos esportes (falei que eu chegaria lá…).
A Maratona de Jerusalém é uma das épocas em que a Terra Santa fica abarrotada de estrangeiros. Idem para Boston e Nova York. O torneio de tênis de Wimbledon atrai dezenas de milhares de turistas estrangeiros a Londres. A final da UEFA Champions League é sempre aproveitada intensamente pelos comitês de turismo da cidade sede. No Super Bowl, são tantas festas durante a semana na cidade-anfitriã, que a quantidade de visitantes costuma ser cinco vezes maior que a capacidade do estádio – muitos deles estrangeiros.
Agora eu pergunto: exceto pela Copa de 2014 e pela Olimpíada de 2016, você se lembra de algum evento esportivo brasileiro que realmente atraiu ou atraia estrangeiros?
A Fórmula 1 é aquilo que mais se aproxima de ter sucesso, mas, ainda assim, a última pesquisa realizada, em 2015, revelou que apenas 16% dos presentes nas arquibancadas de Interlagos eram estrangeiros – a grande maioria argentinos e uruguaios, que fazem um rápido bate-volta e acabam não representando muito para o turismo.
Não é por falta de oportunidade. Aliás, somos tão passivos neste ponto, que as boas ideias acabam sendo “roubadas” antes de as termos. Veja só: Ayrton Senna era paulistano. Na capital paulista estão o hospital onde nasceu, a escola em que estudou, a oficina de seus primeiros karts, o autódromo em que aprendeu a pilotar, a sede de suas empresas, o instituto que sua família criou em homenagem a ele… Tem até estátua, túnel e estrada com o nome dele aqui. E, claro, seu túmulo.
Mas você não ouviu falar de nenhum evento em homenagem ao nosso campeão da Fórmula 1 programado para 2019, quando se completam 25 anos de sua morte, ouviu?
Pois é… eu ouvi! Só que a homenagem acontecerá em Imola, na Itália, onde o acidente fatal ceifou a vida de nosso ídolo. Será realizada pelo comitê de turismo local e terá exposições, visitas ao autódromo, inauguração de museu, celebrações religiosas e laicas e diversos eventos envolvendo celebridades do automobilismo etc. etc. etc..
Esperam-se mais de 25.000 brasileiros e, possivelmente, o dobro de japoneses (quem viveu os anos 80 e 90 sabe como Senna era idolatrado no País do Sol Nascente). Sem contar dezenas ou até centenas de milhares de europeus, claro.
O evento de Imola já está todo planejado e com divulgação em andamento mundo afora – isto com mais de um ano de antecedência! Foi anunciado oficialmente sabe onde? Aqui em São Paulo, semana retrasada, durante a WTM – maior feira de turismo da América do Sul.
Um verdadeiro tapa na nossa cara. Ou o “7 a 1 do turismo esportivo”…
O caso de Ayrton Senna é apenas um exemplo. Talvez até surjam eventos mais para frente, mas, para efeitos de turismo internacional, eles já terão perdido o timing – ninguém programa uma viagem ao Brasil de uma hora para outra. E isso vale para futebol, vôlei, MMA, basquete, pedestrianismo…
Estamos no século passado quando se trata de aliar esporte e turismo.
Acorda, Brasil.
Excelente texto Paulo Mancha. Parabéns !!!
Enviado do meu iPhone Marcelo Dalmagro
Excelente texto Paulo Mancha. Irretocável. Parabéns !!!
Baita texto. Eu trabalhei muito tempo no exterior e vi que eles valorizam muito o turismo esportivo. Visitas aos estádios, lojinhas credenciadas espalhadas por diversas cidades, enfim, posso enumerar diversas formas. No Japão, na frente do Fukuoka Yahoo! Dome do time Softbak Hawks, time de baseball da cidade, é uma loucura. Tem as mãos dos jogadores em bronze, coom tu tivesse apertando aos mãos deles.. atletas do passado e os atuais. Simplesmente sensacional!!! nfim. o 7×1 foi pouco…