O emocionante Museu das Malvinas

Visitamos o surpreendente museu de Buenos Aires que rememora o conflito de 1982 entre argentinos e britânicos

É curioso como na América Latina os bons museus são sempre subestimados. Essa foi a minha impressão ao pisar no Museo Malvinas E Islas Del Atlantico Sur, em Buenos Aires. Afinal, esse lugar surpreendentemente moderno e interessante estava completamente vazio. Ele mal aparece nos guias de turismo.

Mas vá por mim: vale a visita. Sobretudo se você gosta de História ou se viveu aqueles tortuosos tempos do começo da década de 1980.

Eu me encaixo em ambos os casos. Ficou bem marcada em mim a sensação de ter uma guerra acontecendo no “quintal de casa”, entre abril e junho 1982, quando eu era apenas uma criança. As Malvinas sublinharam uma época.

Para quem não sabe, trata-se de um arquipélago no extremo sul do Atlântico, objeto de disputa há mais de três séculos. Em 1982, o então presidente argentino, general Leopoldo Galtieri, decidiu invadir as ilhas de surpresa.

Crédito: WikicommonsA resposta do governo do Reino Unido, por meio da “Dama de Ferro”, Margaret Thatcher, foi enviar uma grande força-tarefa para retomar o território.

O resultado foi uma serie de batalhas ferozes, por ar, terra e mar, durante o primeiro semestre de 1982.

Lembro-me de ficar grudado na TV, esperando o Jornal Nacional, para saber o desenrolar da ação. E por mais que tenhamos rivalidade futebolística com os “hermanos”, e mesmo que o país vizinho fosse uma ditadura, ainda assim confesso que eu torcia pela Argentina…

Mas não deu. Após quase três meses de conflito, enquanto a seleção de futebol do país vizinho era eliminada sob sol ardente na Copa da Espanha, seu exército sofria uma derrota muito mais dramática no gelado Atlântico Sul.

Os britânicos venceram e recuperaram as Falklands (ou Malvinas, como queira), a um custo de 255 mortos em suas forças armadas e 649 no lado argentino.

CONFIRA O VÍDEO QUE FIZ LÁ:

O museu é relativamente novo: foi inaugurado em 2014. Por isso, tem aspecto moderno, arquitetura lindíssima, é amplo, arejado e interativo.

Não se trata de um “museu militar”, mas sim histórico e com grande dose de ciência no seu acervo.

Há salas inteiras dedicadas à fauna e flora do arquipélago, assim como aos povos que lá habitaram em tempos imemoriais. São mapas, maquetes, relíquias, linhas do tempo, representações de animais…

A guerra de 1982, claro, é o destaque, mas ela é abordada de uma forma diferente, sem dramatizar ou apelar a um patriotismo piegas. É um museu muito voltado às memórias pessoais e histórias humanas.

Vide a seção inteira de quadrinhos idealizados por ex-soldados. Ou a parte que mostra os bilhetes e cartas não enviadas encontrados nas trincheiras.

Quadrinistas das Malvinas

É claro que em alguns pontos a visita fica mais soturna, sobretudo nos totens que homenageiam os 323 marinheiros mortos no afundamento do cruzador General Belgrano, que  ocorreu em 2 de maio de 1982, torpedeado pelo submarino nuclear britânico HMS Conqueror. Essa foi a maior tragédia bélica da história argentina, que emociona os nossos vizinhos até os dias de hoje.

 - Crédito: Museo Malvinas
Replica do navio General Belgrano

Enfim, o Museo Malvinas E Islas Del Atlantico Sur é uma atração muito convidativa para quem visita Buenos Aires. Eu recomendo!


Museo Malvinas E Islas Del Atlantico Sur
Santiago de Calzadilla 1301, tel +54 (011) 5280-0750
https://museomalvinas.cultura.gob.ar
Entrada gratuita

 

 

Publicado por Paulo Mancha

Jornalista especializado em turismo, foi editor chefe da Revista Viajar pelo Mundo e repórter das revistas Terra e Próxima Viagem. Desde 2003, fez mais de 50 reportagens internacionais e, em 2012 e 2014, foi agraciado com o Prêmio de Melhor Reportagem da Comissão Europeia de Turismo. Comentarista esportivo do canal ESPN, Paulo decidiu unir neste blog as duas paixões: viagens e esportes.

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