Dois museus contra o racismo

O turismo também é uma forma de transformar mentes. Em 2018, fui a Curaçao, no Caribe, e descobri o Kura Hulanda e o Kas di Pal’i Maishi, dois museus que celebram a cultura africana e lutam contra o racismo

Curaçao é um Caribe diferente: bem mais cultural do que a média. O país faz parte do chamado “ABC” – iniciais de três ilhas vizinhas colonizadas pela Holanda: Aruba, Bonaire e Curaçao. É a maior delas, assim como a mais populosa e aquela que mais protagonismo teve na história local (aguarde matéria completa em breve aqui no site).

Nesses tempos de luta contra o racismo, é importante lembrar e indicar uma das atrações mais impactantes de todo o Caribe: o Kura Hulanda Museum, situado na capital, Willemstad.

Museu Kura Hulanda – Curaçao

É um dos mais completos museus do mundo sobre a escravidão africana e sobre a cultura dos povos que vieram da África para a América entre os séculos XVI e XIX. Bom a ponto de ser declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Vale lembrar que Curaçao foi, durante séculos, um centro de comercialização de escravos, que vinham da África para lá, antes de serem distribuídos por toda a América.

O museu ocupa uma construção histórica ao lado do antigo porto de Willemstad e tem visita guiada e diversos eventos culturais.

Ali descobre-se um dos motivos de a língua local – o papiamento – ter tantas palavras expressões iguaizinhas ao português. É que, além dos escravos trazidos de Cabo Verde e Guiné Bissau, a ilha recebia negros brasileiros, que serviam como “treinadores” dos recém-capturados na África, ensinando-lhes trabalhos domésticos, rurais, língua portuguesa e “etiqueta”.

Mais do que registros históricos sobre escravidão, o Museu Kura Hulanda é também um local de celebração à cultura africana e ao combate ao racismo, com alas inteiras dedicadas ao folclore, artes, literatura e afins. Até mesmo um emocionante painel sobre a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos existe por ali.

Cultura ilha adentro – Não é apenas na porção urbana que Curaçao ostenta marcos históricos. Na quase deserta costa norte da ilha, a 30 km de Willemstad, fica o museu Kas di Pal’i Maishi, que celebra as tradições culturais e culinárias africanas.

Por fora, parece um apenas um aglomerado de casinhas muito simples. Por dentro, a riqueza histórica e cultural encanta.

Há um amplo acervo de utensílios, roupas e fotos abrigado nas kunuku houses – as moradias de argila construídas pelos escravos libertos no final do Século XIX.

Além de conhecer o modo de vida pós-abolição (que veio em 1863), o visitante pode experimentar pratos típicos, como a sopa de cacto, tomada com pão artesanal. E bater papo com o pessoal da ONG que preserva o acervo e as casas. Uma experiência inesquecível.


ATENÇÃO: Devido à pandemia de Covid-19, os museus estão temporariamente fechados. Consulte o site antes de visitar.

Parmesolino fez um amigo no Museu Kas di Pal’i Maishi

Kura Hulanda Museum
Klipstraat, S/N, Willemstad, Curaçao
Site: kurahulanda.com
Entrada: US$ 10

Kas di Pal’i Maishi Museum
Dokterstuin 27, Willemstad, Curaçao
Site: curacao.com
Entrada: US$ 3

 

Publicado por Paulo Mancha

Jornalista especializado em turismo, foi editor chefe da Revista Viajar pelo Mundo e repórter das revistas Terra e Próxima Viagem. Desde 2003, fez mais de 50 reportagens internacionais e, em 2012 e 2014, foi agraciado com o Prêmio de Melhor Reportagem da Comissão Europeia de Turismo. Comentarista esportivo do canal ESPN, Paulo decidiu unir neste blog as duas paixões: viagens e esportes.

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