Ela é campeã em tudo: ensino, esportes, arquitetura, charme… A principal cidade da Nova Inglaterra merece sua visita. Trate de colocá-la em seu roteiro de viagem!
Texto, fotos e vídeos por Paulo Mancha
Ela é sinônimo de glamour, nobreza e altivez. Foi o berço da revolução que gerou a Independência dos Estados Unidos, assim como de clãs políticos que mudaram a história do mundo, como os Kennedy. Tem duas das mais renomadas instituições de ensino do planeta e alguns dos clubes mais dominantes nos esportes do país. Talvez por isso tudo seja reputada pelos norte-americanos como um reduto de “gente esnobe”. O fato é que se trata de um lugar pra lá de especial, pra lá de chique e pra lá de agradável.

Boston fica no coração da Nova Inglaterra – nome pelo qual ficaram conhecidos os seis estados situados no nordeste do território norte-americano. Está a apenas 350 quilômetros de Nova York, mas é bem menor (e menos caótica) que Big Apple. São 700 mil habitantes na cidade em si e pouco menos de 5 milhões na região metropolitana, que engloba muitos outros municípios vizinhos – incluindo a famosa Cambridge, onde estão a Universidade Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Para o visitante, o mais bacana é que dá para fazer muita coisa a pé, já que o centro é plano, arborizado e acolhedor. A primeira providência explorar, com uma boa caminhada, os dois parques do coração da cidade: o Boston Common e o Public Garden, bem ao lado um do outro.

O Public Garden foi o primeiro jardim botânico dos Estados Unidos, inaugurado em 1837. Faz jus ao nome: trata-se de um emaranhado de jardins agradáveis de ver e desvendar, sobretudo se você tiver tempo para relaxar por ali. Vale a pena apreciar os cisnes e até dar uma volta de pedalinho pelos lagos (a criançada adora!).
O jardim é repleto de pontes em estilo vitoriano, bancos para sentar, e estátuas de personagens famosos da história americana. Não é à toa que se tornou cenário de diversos filmes do cinema, como Gênio Indomável (1997) e Ted (2012).

Separado dele pela famosa Charles Street, está outro parque ainda maior: o Boston Common. Mais antigo que seu vizinho, o Common foi inaugurado em 1634, como o primeiro parque público do país – ou melhor, da então colônia britânica, já que os Estados Unidos da América nem sequer existiam.
O Boston Common é menos intrincado e colorido que seu vizinho, mas revela mais atrações, como o monumento The Soldiers e Sailors, em homenagem aos que lutaram na Guerra Civil, e o memorial à vítimas do Massacre de Boston, fato que ensejou a Revolução Americana no Século 18.
Sem falar na Brewer Fountain, chafariz feito na França no Século 19, que compõe uma série de obras de arte praticamente iguais espalhadas mundo afora pelos seus fabricantes, a fundição Val d’Osne. Curiosidade: uma dessas fontes, “irmã” da existente no Boston Common, fica no Terreiro de Jesus, bem no centro de Salvador, na Bahia.

Os parques são o ponto de partida para quem quer bater perna pela cidade. A impressionante Massachusetts State House fica a alguns passos deles. Com sua cúpula dourada, pintada com ouro 23 quilates, esse edifício tombado pelo patrimônio histórico dos Estados Unidos é um marco na paisagem do centro da metrópole.

Outro célebre ponto turístico por ali é o Cheers – o bar que serviu de cenário para a premiada série de televisão de mesmo nome, nos anos 80 e 90. No Brasil, essa sitcom não fez muito sucesso, mas, na terra do Tio Sam, bateu recordes de audiência e até hoje a fachada e o interior do pub vivem lotados de visitantes fazendo selfies e revisitando nostalgicamente os roteiros ora cômicos, ora dramáticos da atração televisiva.
Agora, se você gosta de História e tem disposição para caminhar, pode iniciar ali sua jornada pela Freedom Trail. A “Trilha da Liberdade” é um caminho demarcado no chão com quatro quilômetros de extensão, passando por nada menos que 16 pontos relevantes para a trajetória dos Estados Unidos rumo ao que o país é hoje. Há desde uma singela estátua em homenagem a Benjamin Franklin até um enorme navio dos tempos da Independência Americana, o U.S.S. Constitution (que pode ser visitado por dentro, inclusive).
A oferta de atrações culturais vai além dos itinerários históricos a pé. Há passeios ao mesmo tempo instrutivos e divertidos como a Duck Tour, em que os principais pontos turísticos são desvendados a bordo de um ônibus anfíbio, que adentra o Charles River – o rio que corta a cidade. Os guias por vezes encarnam personagens cômicos e dão um colorido todo especial à jornada.

A Duck Tour, vale dizer, começa e termina em um lugar imperdível: a Prudential Tower, edifício de 52 andares no topo do qual você acha o Skywalk Observatory. Esse mirante 360 graus permite a visão mais fantástica de toda a cidade. Em dias de tempo aberto, dá para ver mais de 100 quilômetros interior adentro ou mar afora.
Confira um vídeo da Duck Tour:
Junto ao observatório, está o museu Dreams of Freedom, dedicado aos imigrantes que fizeram de Boston o que ela é hoje. Atente-se para o fato de haver uma enorme colônia portuguesa, além de milhares de brasileiros em toda essa região da Nova Inglaterra.
E um dado prático muito interessante: há uma opção de ingresso combinado para o Skywalk Observatory que inclui atrações próximas como o aquário de New England, O Museu de Ciências e o Museu de História Natural de Harvard – com preço total 43% menor que o dos ingressos separados.

Para ficar perfeito, só faltou nesse pacote a entrada para o Museu Isabella Stewart Gardner. Guarde bem esse nome, pois é uma das melhores atrações culturais da metrópole. O acervo deste prédio de 1903, em estilo veneziano, inclui 7500 exemplares de pinturas, tapeçarias, mobiliário, livros e esculturas europeias e asiáticas. Entre os artistas representados estão Michelangelo, Rembrandt, Rafael, Botticelli, Manet, Degas e Ticiano.

Em breve, esse museu ganhará muita fama no Brasil: o cineasta José Padilha (diretor de Tropa de Elite e O Mecanismo) foi contratado para conduzir as gravações de um filme que contará o roubo milionário ocorrido ali em 1990, quando treze obras de arte famosas foram levadas por uma quadrilha de ladrões, num golpe genial.
Ok, você não é lá muito fã de arte, história e ciências? Tudo bem, há outras opções. Em Boston tem a Broadway… Não, não errei de cidade. Broadway in Boston é o nome de um grupo de teatros onde grandes musicais são apresentados.

O mais proeminente deles é o Boston Opera House, um prédio construído em 1928, com um auditório em estilo clássico de encher os olhos. Algumas das produções contempladas em 2018 e 2019: Miss Saigon, A Fantástica Fábrica de Chocolate e Aladdin.

Além dos musicais da Broadway de Boston, existe uma miríade de companhias cenográficas que ocupam todo o Theater District, o bairro boêmio próximo ao centro. E junto de tudo isso, uma magnífica cena gastronômica, que garante um final de noite sempre em alto tom para os frequentadores das peças e musicais.
Sim, porque Boston é conhecida mundialmente como a terra dos mariscos, lagostas e afins. Já ouviu falar de clam chowder? Pois foi aqui que, no Século 18, surgiu esse ensopado de amêijoas (também conhecidas no Brasil por vongole), de textura consistente e sabor marcante.

Um dos melhores lugares dos Estados Unidos para degustar essa e outras iguarias marinhas é o Union Oyster House, localizado na pitoresca Union Street, quase ao lado do histórico Mercado de Quincy. Essa taverna com cara de museu naval é, nada mais, nada menos, que o mais antigo restaurante em atividade contínua de todos os Estados Unidos. Funciona ininterruptamente desde 1826, em uma construção ainda mais antiga, de 1716.

Vale a visita mesmo se você não é lá muito chegado em frutos do mar, porque a decoração e as histórias que ali se passaram são uma atração à parte. Só para ter uma ideia, ali morou Louis Philippe d’Orléans, o futuro Rei Luís Felipe I da França (ele reinou entre 1830 e 1848). Já mais recentemente, no Século 20, o restaurante se tornou um dos lugares preferidos do presidente John F. Kennedy, que se sentava sempre à mesma mesa – hoje imortalizada com uma placa em sua homenagem.

Existem também opções mais modernas, com culinária contemporânea, visando o público jovem. Como o descoladíssimo Les Zygomates Wine Bar & Bistro, onde o chef brasileiro Guaracyara Pimenta garantiu ao cardápio uma elegância criativa digna de prêmios e menções nos melhores guias. Obrigatório provar, por exemplo, o tartar de salmão, que emprega uma espécie do peixe trazida das Ilhas Faroe, na Europa, preparada com limão confitado, chalotas, cebolinha, iogurte de menta e wontons crocantes.

Prefere algo mais informal? Então a pedida é ir à região do Fenway Park – o icônico estádio de beisebol da cidade. Ali, dezenas de pequenos restaurantes servem o melhor da chamada “finger food” e também da “comida de estádio” (mas com uma qualidade que não se acha nas arenas do Brasil). Haja vista o Eventide, restaurante moderninho, com preços amigáveis, onde você degusta desde ostras até hot dogs com variados tipos de salsichas, linguiças e complementos.
Por falar nesse bairro, vale dizer que nenhuma visita a Boston está completa se você não se dispuser a uma experiência esportiva. A região tem algumas das mais dominantes franquias atléticas do país de Trump, como os Celtics, da NBA (basquete), os Patriots, da NFL (futebol americano), os Bruins, da NHL (hóquei no gelo) e os Red Sox, da MLB (beisebol).
Só dá para entender o espírito dos habitantes, sua verdadeira alma, acompanhando com eles uma partida dessas equipes. A experiência mais autêntica, nesse sentido, é ver um jogo de beisebol dos Red Sox no Fenway Park – mesmo que você não entenda bulhufas desse esporte. Isso porque só o estádio em si já encanta: é uma obra preservada de 1912 – o mais antigo estádio dessa modalidade no país.

O clima de nostalgia perpassa as arquibancadas e envolve os bastidores, onde barraquinhas de cachorro quente se misturam a lojinhas de produtos, estandes de diversões e brincadeiras para as crianças e até mesmo displays históricos, tal qual num museu a céu aberto.
É um clima de quermesse, mas com o mais entranhado senso nacional estadunidense, expresso no incrível respeito ao momento do hino do país (até os vendedores de cachorro quente param o que estiverem fazendo em respeito a ele), nas comoventes homenagens a veteranos de guerra, e no coro uníssono durante a execução da canção folclórica Take me out to the ball game, composta em 1908 e executada sempre no mesmo momento do jogo.
CONFIRA A MATÉRIA EM VÍDEO QUE FIZ LÁ
Ver uma partida dos Red Sox no Fenway Park pode ser a forma mais emocionante de terminar sua passagem pela grande metrópole da Nova Inglaterra.
MAS E OS PATRIOTS?????
A rigor, o New England Patriots não está sediado em Boston, mas sim em Foxborough, a cerca de 45 minutos de carro dali.
Eu fui até lá e fiz uma matéria no Hall da Fama do time. Dá uma olhada aí: